Por: Heber Carlos de Campos
Esta matéria da direção de
Deus é, teoricamente fácil de se crer, mas na prática ela tem sido
difícil de aceitar, porque tem havido muitas pessoas que lutam contra a
idéia da soberania divina. Ela é tremendamente controvertida nos
círculos sinergistas, isto é, nos lugares onde vigora uma idéia de que o
homem é quem determina os seus caminhos.
Análise de Texto
Jr 10.23 – “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem
determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.
O contexto deste verso é muito importante para que o entendamos. Era
o tempo da invasão de Nabucodonozor. Judá era uma terra de desolação
por causa da maldade do rei de Babilônia que tomou Jerusalém e a
sitiou. Todos os acontecimentos narrados pelo profeta mostram o juízo
de Deus através do monarca dos caldeus. O castigo era por causa da
justiça divina em razão dos pecados de Judá. Todavia, o modo como Deus
usa as pessoas na consecução dos seus planos é produto da sua
soberania. O destino das pessoas sempre foi determinado pela soberania
de Deus. Essa era a ótica de Jeremias quando escreveu estas palavras do
verso em questão.
Na verdade. Jeremias, que era um crente, reconheceu duas
coisas (e só os crentes as reconhecem!) com respeito aos seres humanos:
o destino dos seres humanos e os seus caminhos estão no controle de
Deus:
Que não cabe ao homem determinar o seu caminho
O profeta Jeremias reconheceu que a determinação do destino
dos homens não é tarefa deles. Este aspecto tem a ver com o decreto
divino. Nem sequer o homem sabe o seu dia de amanhã. Toda a vida dos
seres humanos está nas mãos de Deus. O destino deles é designado
inteiramente por Deus. As mãos de Deus é dirigem o nosso destino. Cremos
que não existe acaso na teologia cristã. Todas as cousas que acontecem
na vida dos seres humanos é produto do decisões divinas. Isso não é
fatalismo! O nosso destino é inteligentemente estabelecido pelo sábio
conselho de Deus.
Os caminhos que os homens seguem são, em última análise, o
traçado feito de antemão pelo soberano Deus. Os decretos divinos sobre a
nossa vida é que ficam claros quando a nossa vida é dirigida pelas
mãos de Deus.
O profeta Jeremias teve uma visão muitíssimo clara da
providência soberana de Deus na vida dos seres humanos. Ele entendeu
que os afazeres das nações e dos indivíduos estão sob o governo do
Eterno. Como foi para Jeremiais, este é um artigo de fé que todos os
crentes de origem reformada possuem e dele não podem abrir mão.
Todavia, os incrédulos e mesmo alguns chamados “evangélicos” não
conseguem reconhecer esta verdade. Para estes, o destino deles está nas
suas próprias mãos. O destino deles é selado por atos que eles
próprios praticam como expressão das suas próprias decisões.
Que não cabe ao homem dirigir o seu caminho
É verdade que os seres humanos tomam decisões, mas eles não
são suficientemente capazes de executar todas as suas decisões porque
lhes falta o poder para fazê-lo. É verdade que os seres humanos fazem
escolhas, mas nem sempre o que eles escolhem fazer conseguem fazer. A
execução dos planos dos homens estão condicionadas ao plano divino.
Os passos dos homens são governados pela obra concorrente de
Deus que guia os passos deles. Isto quer dizer que não podemos fazer
absolutamente nada para aliviar os nossos problemas ou para aumentar os
nossos prazeres, a menos que Deus opere conjuntamente conosco e ordene
libertação deles para nós ou aumente o gozo de nossa vida.
Não somos donos e senhores de nossos próprios caminhos. Não
temos o poder de controlar todos os nossos desejos nem de realizá-los
como pretendemos.
Esta também foi a crença do Pregador, provavelmente Salomão. Ele creu na direção providencial de Deus:
Pv 20.24 – “Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho?”
Neste verso o autor sacro está tratando do fato de que Deus está
envolvido com todos os nossos afazeres e os dirige a todos. Todos os
nossos passos estão na dependência direção de nosso Deus. Tudo o que
fazemos, fazemos exatamente porque queremos, mas isto não significa que
somos independentes do decreto nem da ação divina em nossa vida
guiando os nossos passos. Todas as nossas atividades estão debaixo da
providência e, quando falamos dos cristãos, eles estão debaixo da sua
providência graciosa, de forma que, quer andemos por caminhos maus ou
bons, estamos sob o controle gracioso de Deus que nos ensina com
manifestações deliciosas do seu amor ou com as manifestações
disciplinares desse mesmo amor. De qualquer forma, todos os nossos
passos acabam sendo dirigidos por Deus.
As nossas empreitadas não são realizadas porque sozinhos as
desejamos e as fazemos, mas porque Deus está por detrás de tudo quanto
planejamos e realizamos. Não temos poder nem para vislumbrar o que irá
nos acontecer amanhã. Por isso o Pregador diz que “o homem não pode
entender o seu caminho”. Os homens não podem saber nada sobre suas
vidas até que os caminhos deles sejam revelados. Os homens não entendem
os seus caminhos porque eles estão escondidos. Os caminhos dos homens
são segredos escondidos em Deus e, por essa razão, eles não podem
entender o que está acontecendo nem o que vai acontecer com eles.
Porque o Senhor dirige os passos dos homens é que eles nem sempre
entendem o procedimento deles. As decisões de fazer as coisas eles
tomam, mas eles não compreendem porque tomaram aquelas decisões.
Somente os cristãos entendem que os seus passos são
dirigidos pelo Senhor e, seja o que for que possa acontecer, eles crêem
que, em última análise, o Senhor está por detrás dos próprios atos
deles. Eles também não entendem as razões últimas de Deus ao dirigir os
passos deles, mas entendem que é Deus quem os dirige.
Análise de Texto
Pv 16.1,2, 9 – “O coração do homem pode fazer planos, mas a
resposta certa dos lábios vem do Senhor. Todos os caminhos do homem são
puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito... O coração do
homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.”
Estes dois versos de Salomão mostram diretamente os planos dos
homens e indiretamente os de Deus. Estes versos ensinam que os seres
humanos não são suficientes em si mesmos para planejar devidamente. Os
seres humanos não são capazes de pensar e de falar de modo devido, isto
é, de tratar das coisas que são sábias e boas, porque tudo o que fazem
corretamente é porque foram capacitados por Deus, pois aprendem da
Escritura que “a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).
No mais secreto do nosso ser, o coração, arquitetamos
planos, mas não somos sequer capazes de saber se os nossos planos são
certos e bons. O nosso coração é enganoso e não é sábio. A preparação de
todos os nossos atos está no coração dos homens, mas a resposta dos
lábios vem do Senhor.
O texto de Provérbios 16.1 mostra duas verdades incontestáveis sobre a direção providencial de Deus:
O homem propõe caminhos
Os seres humanos em geral possuem a capacidade de agir
livremente. Por isso eles são chamados de livres-agentes. Eles planejam
as coisas e as fazem de acordo com as disposições dominantes dos seus
corações. Eles fazem tudo o que combina com a natureza interior deles.
Eles possuem a liberdade de pensar conforme lhes agrada, formam os seus
projetos, estabelecem as suas idéias, fazendo o melhor que eles podem.
Contudo, todas as propostas dos homens esbarram em algo
muito mais profundo e mais sério que é a disposição de Deus em fazer as
coisas que os homens propõem.
Deus dispõe dos caminhos
Os homens podem fazer todos os planos possíveis, mas eles
não podem dar continuidade a eles sem a anuência do Senhor, ou sem que
receba a sua assistência bondosa. Os projetos dos homens somente se
concretizam se eles estão de acordo com a resposta certa do Senhor que
procede dos seus lábios. Deus é que fez a boca dos homens e lhes dirige
sobre o que falar.
Os planos dos homens não dão certo freqüentemente porque
eles não possuem mente e olhos para ver as coisas que elas não
realidade são. O verso 2 diz que “todos os caminhos são puros aos
homens dos homens”. Eles não têm olhos para ver corretamente o mundo, a
história e o futuro. Eles não sabem prever porque isto não lhes foi
dado. Eles pensam que os caminhos deles são puros, mas freqüentemente
eles estão enganados. Porém o Senhor pondera e pesa o espírito. Isto
quer dizer que o julgamento do Senhor é correto, certo, de acordo com a
verdade. Deus pesa o que está em nós e estabelece juízo sobre os
nossos caminhos e não erra em seus juízos. Ele não somente vê os
caminhos dos homens, mas ele prova o espírito deles, colocando a
resposta certa nos lábios dos homens, mesmo depois deles fazerem os
seus próprios planos.
O verso 9 diz mais ou menos a mesma coisa do verso primeiro:
“O coração do homem traça o seu próprio caminho”. Em virtude das suas
propriedades racionais e de ser um ser pessoal, o homem possui a
faculdade de planejar e idear coisas. Isso é próprio da sua natureza.
Todavia, além de sua natureza, ele possui uma natureza pecaminosa que
não o deixa idear corretamente. Ele, portanto, tenta traçar os seus
próprios caminhos, numa tentativa de mostrar a si mesmos que possui a
capacidade da independência. Freqüentemente ele não realiza os seus
planos porque lhe faltam as cousas próprias do ser divino: faltam-lhe a
onisciência e a onipotência. São estas coisa que tornam Deus capaz de
guiar todos os caminhos dos homens. Ele conhece todas as coisas e pode
todas as coisas. Por isso é dito que “o Senhor lhes dirige os passos”.
Esta prerrogativa divina é relacionada com todos os seres
humanos e diz respeito à consecução dos seus planos eternos. Por isso,
não podemos separar a doutrina dos decretos da doutrina da providência
em Deus.
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Fonte: O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência e a sua realização histórica, da editora Cultura Cristã, p.157-161.
Depravação Total,
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