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A História do Inferno: de 30 a 200 d.C.


O que os cristão através da história creram a respeito do inferno?
Após uma introdução das três principais visões sobre o inferno, apresentamos aqui grandes nomes da história e o que defendiam sobre o assunto. (acesse a introdução para ver o índice)

Textos cristãos primitivos

A Didaquê, ou Ensino dos doze apóstolos, é um texto anônimo que data do fim do primeiro século ou início do segundo, o que o torna um dos mais antigos textos cristãos não-canônicos. Um de seus temas centrais é a instrução moral, organizada em “dois caminhos”: o “caminho da vida” e o “caminho da morte”. Cada “caminho” consiste em uma lista de ações que caracterizam os que o trilham.
O mesmo tema se acha na Epístola de Barnabé, outro texto não-canônico da igreja primitiva. Esses escritos cristãos primitivos confirmam um vínculo estreito entre comportamento moral e destino eterno, mas mostram pouco interesse em detalhar a punição eterna sobre a qual advertem.
Outros textos, com o Apocalipse de Pedro, vão ainda mais longe, fornecendo descrições sensacionalistas de punições correspondentes a determinados pecados. Esta citação, por exemplo, mostra como seriam punidos os adúlteros: “E havia também mulheres, penduradas pelos cabelos acima de um lodo em ebulição; eram aquelas que se haviam ataviado para o adultério. E os homens que as acompanhavam na  corrupção do adultério eram pendurados pelos pés, com a cabeça enfiada no lodo, dizendo: ‘Jamais cremos que chegaríamos a este lugar’”. Esse tema ressurgiria com frequência nas concepções medievais acerca do inferno (dentre as quais a de Dante), mas também encontrou eco surpreendente nos manuscritos de Cunrã.

Justino Mártir (c. 103-165)

Justino Mártir se converteu da filosofia pagã ao cristianismo, e sua contribuição teológica mais marcante foi a formulação de que o Logos eterno, a Palavra de Deus, estava ativa em forma “seminal” em todas as pessoas. Isso permitiu a Justino defender a crença de que os cristãos podem se apossar de tudo o que for bem expresso pelos pagãos: “Tudo o que foi bem expresso entre todos os homens pertence a nós, cristãos [...] Pois todos os escritores conseguiram enxergar realidades obscuramente, por meio da palavra que tinha sido neles semeada e implantada. Pois uma coisa é a semente e a imitação compartilhada levando em conta a capacidade, mas outra bem diferente é a coisa em si, cuja participação e imitação dependem da graça que procede dele”.
Embora Justino tivesse reservas quanto às implicações desse entendimento para o destino eterno dos pagãos, suas crenças sobre o Logos inspiraram a especulação cristã em torno dos “pagãos virtuosos”, os quais poderiam obter acesso à verdade de Cristo de alguma maneira, independentemente dos meios convencionais ― o que fez de Justino o pai da tradição inclusivista dentro do cristianismo.

Clemente de Alexandria (c. 150-215)

Clemente de Alexandria foi talvez o primeiro escritor cristão a falar da apocatástase, o retorno a Deus de todos os seres criados. Foi ele também quem propôs que as chamas do juízo são de purificação e não de destruição. No entanto, não desenvolveu suas convicções de forma sistemática.

Ireneu (fim do segundo século)

Ireneu, bispo de Lião, é largamente conhecido por sua refutação do gnosticismo. Os gnósticos usavam o texto de 1Coríntios 15.50 — “Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus” ―, fora de contexto, para assim rejeitar a ressurreição do corpo. Ireneu contra-argumentava, afirmando que Jesus assumiu a natureza humana justamente para remir todos os aspectos da humanidade, mesmo nosso corpo. Ireneu descrevia a Queda como o engano, nas mãos de Satanás, de um Adão e de uma Eva inocentes e pueris. Embora Ireneu cresse na punição eterna, ressaltava a redenção da humanidade como um todo por meio de Jesus, crendo na condenação como destino somente aos que escolhessem rejeitar a redenção.

Tertuliano (c. 160-220 d.C.)

Tertuliano, o veemente apologista cristão do norte da África, representava de modo eloquente os aspectos mais rigorosos do pensamento cristão primitivo. Cria que os pecados graves cometidos após o batismo não podiam ser perdoados, e com base nessa crença rejeitava o batismo infantil. Em seus escritos contra o paganismo, frisou que as chamas eternas avivadas pelas virgens vestais (sacerdotisas aristocráticas da religião romana tradicional) eram o símbolo perfeito do destino que as aguardava após a morte.

© 2011 Christian History. christianhistorymagazine.org | Usado com permissão.
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

A História do Inferno: Introdução



Recentemente a revista Christian History publicou uma pequena edição intitulado “A História do Inferno – Um breve panorama e guia de recursos”, recurso recomendado por alguns pastores, como Mark Driscoll. Cremos que este conteúdo complementará com a perspectiva histórica sobre essa doutrina, por isso o estamos traduzindo (com permissão da própria revista).
Serão, provavelmente, 12 postagens ao total. Esta com uma pequena introdução sobre os três pontos de vista sobre o assunto; mais 10 apresentando grandes nomes da história e o que defendiam sobre o assunto (do ano 30 até 1900) e, por fim, o ebook completo com alguns recursos de posições modernas. Tentaremos incluir o máximo de referências e livros disponíveis em português.
Há vários motivos porque postamos sobre a doutrina do inferno. A principal é porque amamos a Jesus. Outro motivo é o descaso (ou, às vezes, abuso) que há em nossos tempos. Se você se pergunta “por que a crença no inferno é fundamental?” sugerimos que você leia este artigo de John Piper. Por último, gostaria de ressaltar que não será apresentado embasamento bíblico sobre o assunto. Será um panorama histórico. Se você deseja ver uma abordagem teológica e pastoral sugiro que você veja os materiais disponíveis em: nosso arquivo (VE), no iPródigo e no Monergismo.
Boa leitura

O INFERNO: TRÊS PONTOS DE VISTA

TRADICIONAL 
Alguns (talvez mesmo a maior parte da espécie humana) não serão salvos. • Cada pessoa é julgada de uma vez por todas na morte e herda ou a vida eterna, ou a condenação eterna. • O inferno é um lugar de punição consciente e interminável em decorrência do pecado. Essa punição é interpretada ora de modo literal (tormento físico), ora de modo metafórico (um estado do ser, sofrimento espiritual, separação em relação a Deus). • Uma vez no inferno, a pessoa não tem mais como escapar. • Algumas vertentes desse ponto de vista defendem que há diferentes graus de punição, dependendo da gravidade dos pecados cometidos. • Algumas correntes (como a calvinista) enfatizam a soberania de Deus na punição daqueles a quem ele escolhe punir, ao passo que outras linhas ressaltam a liberdade da escolha humana. • A posição católica romana estabelece uma distinção entre inferno e purgatório — local temporário de purificação para os destinados ao céu.
IMORTALIDADE CONDICIONAL OU ANIQUILACIONISMO 
Alguns não serão salvos. • A alma humana não é imortal por natureza. A existência eterna é um dom que Deus dá aos remidos. • Os impenitentes serão punidos, mas esse período de punição consciente terá fim. • Na última ressurreição, os impenitentes serão destruídos e deixarão de existir. O “fogo” do inferno de que fala a Escritura é consumidor, não atormentador. • Alguns condicionalistas creem que após a morte a pessoa receberá uma segunda oportunidade de aceitar ou rejeitar a Deus.
RESTAURACIONISMO OU UNIVERSALISMO 
Todos no fim serão salvos, e Deus restaurará a criação à perfeita harmonia. • A punição eterna contradiz o amor de Deus, uma vez que Deus deseja a salvação de todos e tem o poder de vencer o pecado e o mal. O amor de Deus é mais forte que a resistência humana. • Se existe inferno, não é por toda a eternidade. A punição é transitória e corretiva, levando o pecador ao arrependimento e à união com Deus. • Mesmo o Diabo pode no final de tudo se arrepender e ser salvo. • Alguns teólogos ao longo da história defenderam uma posição mais cautelosa de “universalismo esperançoso”, ou seja, não podiam afirmar dogmaticamente que todos serão salvos, mas tampouco podiam negar essa possibilidade.
© 2011 Christian History. christianhistorymagazine.org | Usado com permissão.
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
Obs.: O VE defende oficialmente a posição tradicional do inferno, crendo ser essa a correta interpretação dos ensinos bíblicos.

Deus dirige os caminhos de todos os homens

Por: Heber Carlos de Campos





Esta matéria da direção de Deus é, teoricamente fácil de se crer, mas na prática ela tem sido difícil de aceitar, porque tem havido muitas pessoas que lutam contra a idéia da soberania divina. Ela é tremendamente controvertida nos círculos sinergistas, isto é, nos lugares onde vigora uma idéia de que o homem é quem determina os seus caminhos.
Análise de Texto
Jr 10.23 – “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.
O contexto deste verso é muito importante para que o entendamos. Era o tempo da invasão de Nabucodonozor. Judá era uma terra de desolação por causa da maldade do rei de Babilônia que tomou Jerusalém e a sitiou. Todos os acontecimentos narrados pelo profeta mostram o juízo de Deus através do monarca dos caldeus. O castigo era por causa da justiça divina em razão dos pecados de Judá. Todavia, o modo como Deus usa as pessoas na consecução dos seus planos é produto da sua soberania. O destino das pessoas sempre foi determinado pela soberania de Deus. Essa era a ótica de Jeremias quando escreveu estas palavras do verso em questão.
Na verdade. Jeremias, que era um crente, reconheceu duas coisas (e só os crentes as reconhecem!) com respeito aos seres humanos: o destino dos seres humanos e os seus caminhos estão no controle de Deus:

Que não cabe ao homem determinar o seu caminho

O profeta Jeremias reconheceu que a determinação do destino dos homens não é tarefa deles. Este aspecto tem a ver com o decreto divino. Nem sequer o homem sabe o seu dia de amanhã. Toda a vida dos seres humanos está nas mãos de Deus. O destino deles é designado inteiramente por Deus. As mãos de Deus é dirigem o nosso destino. Cremos que não existe acaso na teologia cristã. Todas as cousas que acontecem na vida dos seres humanos é produto do decisões divinas. Isso não é fatalismo! O nosso destino é inteligentemente estabelecido pelo sábio conselho de Deus.
Os caminhos que os homens seguem são, em última análise, o traçado feito de antemão pelo soberano Deus. Os decretos divinos sobre a nossa vida é que ficam claros quando a nossa vida é dirigida pelas mãos de Deus.
O profeta Jeremias teve uma visão muitíssimo clara da providência soberana de Deus na vida dos seres humanos. Ele entendeu que os afazeres das nações e dos indivíduos estão sob o governo do Eterno. Como foi para Jeremiais, este é um artigo de fé que todos os crentes de origem reformada possuem e dele não podem abrir mão. Todavia, os incrédulos e mesmo alguns chamados “evangélicos” não conseguem reconhecer esta verdade. Para estes, o destino deles está nas suas próprias mãos. O destino deles é selado por atos que eles próprios praticam como expressão das suas próprias decisões.

Que não cabe ao homem dirigir o seu caminho

É verdade que os seres humanos tomam decisões, mas eles não são suficientemente capazes de executar todas as suas decisões porque lhes falta o poder para fazê-lo. É verdade que os seres humanos fazem escolhas, mas nem sempre o que eles escolhem fazer conseguem fazer. A execução dos planos dos homens estão condicionadas ao plano divino.
Os passos dos homens são governados pela obra concorrente de Deus que guia os passos deles. Isto quer dizer que não podemos fazer absolutamente nada para aliviar os nossos problemas ou para aumentar os nossos prazeres, a menos que Deus opere conjuntamente conosco e ordene libertação deles para nós ou aumente o gozo de nossa vida.
Não somos donos e senhores de nossos próprios caminhos. Não temos o poder de controlar todos os nossos desejos nem de realizá-los como pretendemos.
Esta também foi a crença do Pregador, provavelmente Salomão. Ele creu na direção providencial de Deus:
Pv 20.24 – “Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho?”
Neste verso o autor sacro está tratando do fato de que Deus está envolvido com todos os nossos afazeres e os dirige a todos. Todos os nossos passos estão na dependência direção de nosso Deus. Tudo o que fazemos, fazemos exatamente porque queremos, mas isto não significa que somos independentes do decreto nem da ação divina em nossa vida guiando os nossos passos. Todas as nossas atividades estão debaixo da providência e, quando falamos dos cristãos, eles estão debaixo da sua providência graciosa, de forma que, quer andemos por caminhos maus ou bons, estamos sob o controle gracioso de Deus que nos ensina com manifestações deliciosas do seu amor ou com as manifestações disciplinares desse mesmo amor. De qualquer forma, todos os nossos passos acabam sendo dirigidos por Deus.
As nossas empreitadas não são realizadas porque sozinhos as desejamos e as fazemos, mas porque Deus está por detrás de tudo quanto planejamos e realizamos. Não temos poder nem para vislumbrar o que irá nos acontecer amanhã. Por isso o Pregador diz que “o homem não pode entender o seu caminho”. Os homens não podem saber nada sobre suas vidas até que os caminhos deles sejam revelados. Os homens não entendem os seus caminhos porque eles estão escondidos. Os caminhos dos homens são segredos escondidos em Deus e, por essa razão, eles não podem entender o que está acontecendo nem o que vai acontecer com eles. Porque o Senhor dirige os passos dos homens é que eles nem sempre entendem o procedimento deles. As decisões de fazer as coisas eles tomam, mas eles não compreendem porque tomaram aquelas decisões.
Somente os cristãos entendem que os seus passos são dirigidos pelo Senhor e, seja o que for que possa acontecer, eles crêem que, em última análise, o Senhor está por detrás dos próprios atos deles. Eles também não entendem as razões últimas de Deus ao dirigir os passos deles, mas entendem que é Deus quem os dirige.
Análise de Texto
Pv 16.1,2, 9 – “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor. Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito... O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.”
Estes dois versos de Salomão mostram diretamente os planos dos homens e indiretamente os de Deus. Estes versos ensinam que os seres humanos não são suficientes em si mesmos para planejar devidamente. Os seres humanos não são capazes de pensar e de falar de modo devido, isto é, de tratar das coisas que são sábias e boas, porque tudo o que fazem corretamente é porque foram capacitados por Deus, pois aprendem da Escritura que “a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).
No mais secreto do nosso ser, o coração, arquitetamos planos, mas não somos sequer capazes de saber se os nossos planos são certos e bons. O nosso coração é enganoso e não é sábio. A preparação de todos os nossos atos está no coração dos homens, mas a resposta dos lábios vem do Senhor.
O texto de Provérbios 16.1 mostra duas verdades incontestáveis sobre a direção providencial de Deus:

O homem propõe caminhos

Os seres humanos em geral possuem a capacidade de agir livremente. Por isso eles são chamados de livres-agentes. Eles planejam as coisas e as fazem de acordo com as disposições dominantes dos seus corações. Eles fazem tudo o que combina com a natureza interior deles. Eles possuem a liberdade de pensar conforme lhes agrada, formam os seus projetos, estabelecem as suas idéias, fazendo o melhor que eles podem.
Contudo, todas as propostas dos homens esbarram em algo muito mais profundo e mais sério que é a disposição de Deus em fazer as coisas que os homens propõem.

Deus dispõe dos caminhos

Os homens podem fazer todos os planos possíveis, mas eles não podem dar continuidade a eles sem a anuência do Senhor, ou sem que receba a sua assistência bondosa. Os projetos dos homens somente se concretizam se eles estão de acordo com a resposta certa do Senhor que procede dos seus lábios. Deus é que fez a boca dos homens e lhes dirige sobre o que falar.
Os planos dos homens não dão certo freqüentemente porque eles não possuem mente e olhos para ver as coisas que elas não realidade são. O verso 2 diz que “todos os caminhos são puros aos homens dos homens”. Eles não têm olhos para ver corretamente o mundo, a história e o futuro. Eles não sabem prever porque isto não lhes foi dado. Eles pensam que os caminhos deles são puros, mas freqüentemente eles estão enganados. Porém o Senhor pondera e pesa o espírito. Isto quer dizer que o julgamento do Senhor é correto, certo, de acordo com a verdade. Deus pesa o que está em nós e estabelece juízo sobre os nossos caminhos e não erra em seus juízos. Ele não somente vê os caminhos dos homens, mas ele prova o espírito deles, colocando a resposta certa nos lábios dos homens, mesmo depois deles fazerem os seus próprios planos.
O verso 9 diz mais ou menos a mesma coisa do verso primeiro: “O coração do homem traça o seu próprio caminho”. Em virtude das suas propriedades racionais e de ser um ser pessoal, o homem possui a faculdade de planejar e idear coisas. Isso é próprio da sua natureza. Todavia, além de sua natureza, ele possui uma natureza pecaminosa que não o deixa idear corretamente. Ele, portanto, tenta traçar os seus próprios caminhos, numa tentativa de mostrar a si mesmos que possui a capacidade da independência. Freqüentemente ele não realiza os seus planos porque lhe faltam as cousas próprias do ser divino: faltam-lhe a onisciência e a onipotência. São estas coisa que tornam Deus capaz de guiar todos os caminhos dos homens. Ele conhece todas as coisas e pode todas as coisas. Por isso é dito que “o Senhor lhes dirige os passos”.
Esta prerrogativa divina é relacionada com todos os seres humanos e diz respeito à consecução dos seus planos eternos. Por isso, não podemos separar a doutrina dos decretos da doutrina da providência em Deus.

_________________________
Fonte: O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência e a sua realização histórica, da editora Cultura Cristã, p.157-161.

Carta a um Jovem com Problemas Sexuais

O que segue é um e-mail que recebi de um irmão que estava com problemas sexuais em seu namoro. Logo abaixo vai minha resposta. O texto foi editado para melhor se adequar, retirando certas pessoalidades. Espero que possa ser de utilidade para alguém.




Como eu já te falei, eu tenho 20 anos e faço faculdade. Acontece que há quase dois anos (eu tinha 19), comecei a namorar uma irmã da igreja. Ela é uma moça de Deus, comprometida com o Reino, ama o Senhor e sempre teve um desejo de dedicar-se à obra, como eu – inclusive ela sonha em fazer missões. Todavia, nos últimos dois ou três meses temos sido terrivelmente tentados na área sexual. Alguns dias atrás, fomos parar na porta de um motel, mas acabamos não entrando. E, sinceramente, o motivo de não termos entrado não foi temor ao Senhor (naquele momento eu só queria satisfazer os desejos da minha carne) – foi simplesmente medo, insegurança, afinal nós dois somos virgens. O fato é que, mesmo não tendo consumado a relação sexual, nós fomos muito além do aceitável e estamos ambos arrasados. O pastor de nossa igreja está nos dando todo o apoio, nos disciplinando em amor, nos oferecendo consolo, mas eu estou à beira de desistir. Não é a primeira nem a segunda vez que cedemos às tentações dessa maneira. Eu me sinto completamente enojado em relação à minha própria vida, em relação ao meu pecado, mas, ao mesmo tempo, não sinto forças para continuar combatendo-o. Estou renunciando a todos os compromissos que tinha com a obra em nossa igreja, pois me sinto desqualificado, reprovado para o ministério. O trabalho ministerial é muito abençoado, não posso servir vivendo da forma como estou. Peço oração e ajuda. Eu não sei o que está acontecendo comigo, não sei como tenho retrocedido tanto depois de experimentar tantas coisas maravilhosas da parte do Senhor. Tenho questionado a minha própria salvação, pois como um nascido de novo pode viver de forma tão podre? E esse questionamento está me consumindo. Gostaria de poder me casar, como Paulo ordena àqueles que não podem se conter, e estou me organizando para isso. Mas sou apenas estagiário, e minha família não é cristã e não apóia a idéia. Ou seja, não sei mesmo o que fazer. Nesse momento, tudo o que eu quero é força para não desistir.

RESPOSTA


Meu irmão,
Seu desabafo muito me comove. Pedro foi mesmo sábio quando, ao aconselhar os jovens, declarou: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo” (II Pe 5:8,9). Eu também sou um jovem (tenho 18 anos), também namoro a mesma garota faz tempo (desde os 15 anos), também somos virgens e também já passamos de muitos limites. Logo, só posso concordar com Pedro: as mesmas aflições se cumprem entre os irmãos de todo o mundo. Nosso adversário ruge ao nosso redor tentando tragar-nos com nossas próprias paixões. Eu passava por problemas muito parecidos com o seu. Hoje, essas lutas são muito mais amenas e raras, mas, antes, a derrota era constante e devastadora. Saiba: eu conheço muito bem o seu problema, já o sofri intensamente e quase todo irmão que tem nossa idade passa ou já passou por problemas no mínimo muito parecidos.
Sabe, eu sou uma criança, assim como você. Um homem, e não um garoto, deveria estar te aconselhando aqui. Fico feliz que seu pastor esteja te dando apoio, consolo e disciplina amorosa. Ame este homem e agarre-se nele o máximo possível. Freqüente a casa dele, ore com ele, cresça com ele, amadureça com ele. “O que anda com os sábios ficará sábio, mas o companheiro dos tolos será destruído” (Pv 13:20). Encontre homens que amem a Cristo, amem a Escritura e amem a Santidade. Ande o máximo com eles, pois te ensinarão sobre como ser um homem bíblico. Seu pastor e bons amigos serão peças importantes para te dar força neste momento de luta.
Amigo, primeiramente, não desista. Você não está sozinho em sua luta. É Deus quem opera em nós tanto o querer como o realizar em nossa santificação (Fp 2:12,13). É Ele que nos dá força e nos faz andar de acordo com a Verdade. Clame desesperadamente ao que pode te santificar. Como disse Al Martin, Fé salvadora é o arremesso desesperado de uma alma desesperada nos braços de um Todo-Poderoso Salvador. Arremesse-se a Cristo. Lance-se n’Ele. Você não pode fazer nada só. Você precisa esmurrar seu corpo e fazer dele seu escravo (I Co 9:27), mas você não conseguirá sem jogar-se confiante e desesperado nos braços de Cristo.
Quando minha luta contra esse pecado era mais intensa, eu pude listar uns poucos conselhos bíblicos. Creio que te servirão:
Seja apaixonado por Jesus. Deus não retira de nós as paixões pelo mundo quando clamamos a Ele, Deus nos oferece uma paixão maior. Não deixamos de possuir “paixões da mocidade” (II Tm 2:22) quando cremos em Cristo, mas a paixão por Jesus deve arder tão forte em nós que as outras paixões são ignoradas e mortificadas. Busque Cristo nas Escrituras, veja boas pregações e ore bastante. O Fogo por Deus deve estar aceso no seu coração. Ainda que você esteja fraco, “[Ele] não… apagará o pavio que fumega” (Is 42:3).
Lembre que você é um peregrino. Pedro, em sua primeira carta (2:11), nos diz que devemos abster-nos dos desejos da carne que fazem guerra contra nossa alma. Ele deixa claro que fala isso “como a peregrinos e forasteiros”. Precisamos tomar posse desta consciência de que não pertencemos a essa terra. Não devemos olhar para esse mundo como nosso. O sexo, a masturbação, a pornografia são coisas passageiras e terrenas. Há um prazer e uma alegria muito mais profunda e duradoura nos céus. Olhe para o alto: lá é a sua terra, não aqui. Livre-se de bobagens e futilidades terrenas. Ponha sua mente e seu coração no que vem de Deus.
Guarde seu coração. “Acima de tudo, guarde seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv 4:23). Creio que este provérbio já é enfático o suficiente para dispensar qualquer comentário posterior. O pecado começa dentro de nós (Tg 1:14,15) e é no nosso interior que a batalha começa. Guarde-se de amar o pecado. Se você perceber que está sendo arrastado para o erro, clame a Deus ante que seu mau desejo seja manifesto.
Proteja seus olhos. Jó fez um belo pacto consigo mesmo: “Fiz um acordo com os meus olhos de não olhar com cobiça para as moças” (Jó 31:1). Para vencer nosso próprio desejo, precisamos proteger nossos olhos de toda cobiça. Quando começamos a namorar, somos rápidos em nos guardar de cobiçar qualquer moça além de nossa namorada. O problema é que você não é casado, assim, não deveria cobiçar ninguém! Lute para não olhar para ela com desejo. Proteja seus olhos e você estará protegendo seu coração. Se preciso for, converse com sua namorada para que ela vista-se de modo mais comportando quando está com você.
Fuja! Imagine essa cena: “Você é um lutador e seu mestre está falando sobre seus adversários. Ele diz: está vendo aquele homem? Lute contra ele. Está vendo aquele outro? Resista contra ele. Agora, sobre aquele terceiro ali, não chegue nem perto. Fuja dele! Fuja!”. Nesta analogia, vemos uma verdade bíblica muito importante. Em Efésios 6:10-12 somos ordenados a resistir ao diabo. Em Tiago 4:7 somos, também, ensinados a resistir a Satanás. Já em II Timóteo 2:22 somos ordenados a fugir das paixões da mocidade. Sobre este ponto, Paul Washer diz que “isto demonstra que a paixão da sua carne e a sensualidade desenfreada da sua cultura é mais perigosa do que uma batalha face a face com o diabo”. Washer continua:
“Eu conheço inúmeros jovens cristãos que demonstraram evidências genuínas de conversão, e ainda assim ao entrar em uma relação com o sexo oposto, eles caíram em imoralidade. Eu sei que eles memorizam as Sagradas Escrituras, oram, e até jejuam para serem puros na sua relação, e mesmo assim eles caíram. Por quê? Porque eles não entenderam que todas as disciplinas espirituais das Sagradas Escrituras não poderiam salvá-los das paixões da juventude. Eles tentavam lutar uma batalha enquanto Deus os ordenou a fugir. Resumindo: Você não pode ficar sozinho em um relacionamento com uma pessoa do sexo oposto durante um período extenso de tempo sem cair. Por isso, vocês nunca devem ficar sozinhos em uma casa, carro, ou qualquer outro lugar onde a luxúria e os desejos podem ser acesos e o fracasso é certo.”
Fugir foi a maior ferramenta de santificação de Deus na minha vida. Ficar sem beijar minha namorada, não estar sozinho com ela, praticamente só namorar por telefone e em locais bastantes públicos foram modos que usamos para fugir de nossos desejos. Fuja também. Não ache que você terá forças para resistir. A melhor forma de lutar, neste caso, é fugindo. Funcionou comigo, funcionou com outros cristãos, peço a Deus que funcione com você.
Ocupe-se com o Reino. Temos o péssimo costume de abandonar todas as nossas atividades onde nos congregamos quando estamos caindo constantemente no mesmo pecado. Não faça isso. Continue servindo aos seus irmãos como você servia antes. Se possível, sirva até mais. Isso vai te deixar ocupado e te impedirá de gastar seu tempo com o que é vão. Não desperdice sua juventude, gaste-se na Obra de Deus. Os dias que você tirava para namorar, tire agora para evangelizar junto de sua namorada. Eu sei, será super desgastante e você vai ter a sensação que está se distanciando de quem você ama. Eu senti isso no começo, mas, na verdade, vocês estarão crescendo na graça de Deus e fortalecendo a união de vocês. Procure ministérios de evangelismo, traduza textos, freqüente pequenos grupos que sejam realmente bíblicos, pregue nas ruas, leia as Escrituras. Viva de um modo que você possa, daqui a alguns anos, olhar para traz no tempo e dizer: para o mundo, eu joguei minha juventude fora; mas para Deus, eu estava mais vivo que qualquer outro.
Confie que Cristo te dará forças. Vou deixar apenas Deus falar neste ponto, Ele se expressa melhor que eu: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Fp 1:6). “Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo (I Pe 1:5-7). “Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (Jo 10:29). “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória…” (Jd 24). “Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” (II Tm 1:12).
Case. Paulo disse que “… se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se [ou arder em desejo]“ (1 Co 7:9). Planeje-se para seu casamento. Abra mão de um mestrado para poder casar logo. Transfira seu curso para a noite para poder trabalhar durante o dia. Você conhece sua rotina e seus planos, analise-os com cuidado e se planeje, junto com sua namorada, para casar. Hoje em dia, criamos um milhão de dificuldades para adiar o casamento. Claro que é um passo importantíssimo na nossa vida, mas acabamos procrastinando demasiadamente o matrimonio. Eu, por exemplo, só pretendo fazer meu mestrado depois de algum tempo de casado e se eu conseguir bolsa pra tal, com isso, posso casar-me alguns anos mais cedo. Olhe para sua vida, converse com sua namorada e vejam o que pode ser feito. Claro, ore bastante sobre tudo. “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR” (Pv 16:1).
Foras essas dicas bíblicas, eu possuo algumas dicas práticas que funcionaram comigo e com outros irmãos. Todas elas foram vividas por mim e, graças a Deus, funcionaram. Aconselhei sobre isso para alguns amigos e funcionou com eles também. Oro a Deus que funcione com você:
Abra mão do beijo. Simplesmente não beije. Parece duro, mas depois de um tempo você vai ver como é abençoador. O beijo não é pecado, mas pode levar ao pecado, como quase tudo na vida. Como você está fraco, é bom cortar de vez o beijo. Eu e minha namorada não conseguimos instantaneamente, logo, começamos a namorar apenas por telefone (o que foi complicado para nós, já que somos vizinhos). Isso, além de livrar de pecados, vai ajudá-los e tornar a união de vocês mais forte.
Tenha casais amigos. Nada melhor do que possuir amigos que também namoram ou são casados. Cristãos, preferencialmente. Vocês poderão sempre sair juntos para algum restaurante ou para o cinema, etc. Eu e minha namorada temos dois casais de amigos cristãos e é ótimo sairmos juntos. E o melhor, você não precisa abrir mão de momentos românticos por estar em grupo. Os casais só precisam se separar um pouco para ter um momento de intimidade. Mas lembre, no começo, é bom maneirar em ficar sozinho com a namorada.
Orem juntos. Disciplina de oração é ótimo para a vida cristã e para o seu relacionamento. Encontrem grupos de oração ou irmãos dispostos a orar com vocês. Cuidado: nada de ficarem sozinhos para orar, o pecado está a porta! Sempre orem em comunhão com outros crentes.
Conversem sobre coisas do alto. Namorados precisam conversar, claro. Mas muitas vezes as conversas são fúteis e tolas. Adquiriam a rotina de ler sempre as Escrituras, bons livros e ver boas pregações. Não só isso, mas conversem sobre o que aprenderam. O pecado perderá força contra vocês naturalmente, pois estarão sendo santificados pela Palavra de Deus em seus corações.
Claro, tudo isso é uma luta. Uma verdadeira guerra. Não é nada fácil. Às vezes, na guerra contra o pecado, precisamos resistir ao extremo de derramar o próprio sangue (Hb 12:4). Se nada funcionar, e que Deus repreenda isso, esteja disposto a arrancar olhos, mãos e pernas (Mt 5:29). Se preciso for, acabe com seu namoro. É melhor entrar solteiro no céu do que casado no inferno. Essa não é a escolha primária. Lute contra seu pecado. Mas se nada, mesmo com toda a luta do mundo, funcionar, medidas drásticas precisam ser tomadas.
Para finalizar, lembre-se: sentir-se sujo, nojento, pecador e depravado por conta de nosso pecado, até certo ponto, é algo bom, pois revela nossa tristeza com nossos erros e evidência nossa regeneração. Você provavelmente é salvo se pode dizer: “O pecado é meu fardo, não meu prazer; minha miséria, não meu deleite”. Agora, isso não deve nos parar e roubar nossa alegria em Cristo. Davi, quando pecou sexualmente, escreveu um salmo a Deus e disse o seguinte: “Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário” (Sl 51:12). Ore para que você alegre-se novamente diante da obra de Cristo por um depravado como você. Quão maus nos somos, e quão bom Cristo é!
Você está, desde já, em minhas orações. Clamo a Deus que Ele te dê forças assim como Ele tem me dado. Depois de quase dois anos praticamente só de fracasso, Deus me deu forças para lutar. Saiba: na força de Deus, é possível vencer qualquer pecado. Cristo já os derrotou na cruz, nossa vitória é certa, n’Ele venceremos.

John Piper – Como você reagiria a um amigo cristão que está em um relacionamento homossexual?



Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Tradução e legenda: voltemosaoevangelho.com
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[DOUTRINAS DA GRAÇA] John Piper & John MacArthur – O que significa e não significa a Depravação Total



O QUE É A “DEPRAVAÇÃO TOTAL?
John MacArthur
A expressão “depravação total” (que não pertence a João Calvino, mas é uma expressão que descreve seu ponto de vista) contém em si uma ambigüidade infeliz. Muitos dos que se expõem pela primeira vez a essa terminologia supõem ser este o seu significado: Calvino ensinava que todos os pecadores são tão completamente maus quanto podem ser.
Mas Calvino negava expressamente essa idéia. Reconhecia que “em cada época, existem pessoas que, guiadas por natureza, se empenham pela virtude durante toda a vida”.[i] Ele sugeriu que tais pessoas (“embora haja lapsos… em sua conduta moral”)[ii] possuem caráter recomendável, conforme o ponto de vista humano. “Por meio do próprio zelo de sua honestidade, elas têm dado provas de que há alguma retidão em sua natureza.”[iii] Ele foi mais além: “Esses exemplos parecem advertir-nos contra o sentenciarmos a natureza do homem como totalmente corrupta, porque alguns homens têm, por seu impulso, não somente sido excelentes em obras notáveis, mas também se comportado de maneira honrosa durante a vida”.[iv]
No entanto, Calvino prosseguiu afirmando que isso, na verdade, remete-nos à direção contrária. Antes, “deve ocorrer-nos que, em meio a esta corrupção da natureza, há algum lugar para a graça de Deus, não a graça que purifica essa natureza, e sim que a restringe interiormente”.[v]
Nessa altura, Calvino estava descrevendo o que os teólogos chamaram posteriormente de “graça comum” — a influência restringente da parte de Deus que mitiga os efeitos do nosso pecado e capacita até criaturas caídas a manifestarem — nunca com perfeição, mas sempre de modo débil e gravemente prejudicado — a imagem de Deus que ainda faz parte de nossa natureza humana, embora tenha sido maculada pela Queda.
Em outras palavras, a depravação é “total” no sentido de que afeta todas as partes de nosso ser — não somente o corpo, não somente as emoções, mas igualmente a carne, o espírito, a mente, as emoções, os desejos, os motivos e a vontade, juntos. Não somos tão maus quanto podemos ser, mas isso acontece apenas por causa da graça restringente de Deus. Nós mesmos somos totalmente corruptos, porque de uma maneira ou de outra o pecado contamina tudo que pensamos, desejamos e fazemos. Portanto, nunca tememos a Deus da maneira como deveríamos, nunca O amamos como deveríamos e nunca Lhe obedecemos com um coração completamente puro. Isso era o que significava depravação total para Calvino.
O tratado completo de Calvino sobre a depravação humana é um dos seus mais importantes legados. Depois de sua obra a respeito da justificação pela fé, esse talvez seja um dos aspectos mais vitais de seu sistema doutrinário. Ele trouxe esclarecimento a um princípio crucial que caíra em obscuridade durante séculos desde o conflito de Agostinho com Pelágio. Magnificar o livre-arbítrio humano ou minimizar a extensão da depravação humana significa tornar irrelevante a necessidade da graça divina e subverter cada aspecto da verdade evangélica.
Uma vez que uma pessoa assimile a verdade sobre a depravação humana, os princípios controversos e difíceis da depravação se encaixam em seu devido lugar. A eleição incondicional, a primazia e a eficácia da graça salvadora, a necessidade da expiação vicária e a perseverança de todos os que Deus redime graciosamente são conseqüências necessárias deste princípio.
Embora este capítulo não possa ser mais do que uma introdução e um breve resumo da obra de Calvino quanto à doutrina da depravação, podemos ver na maneira como ele lidou com este assunto todos os melhores aspectos do ministério do grande reformador e da sua abordagem da doutrina bíblica. Nisto, vemos Calvino no seu melhor — perfeitamente informado da história da igreja, da filosofia humana e dos melhores aspectos da tradição cristã, mas determinado resoluta e incondicionalmente a submeter sua mente e ensino à verdade das Escrituras.
Sua habilidade extraordinária de enfrentar com franqueza assuntos difíceis, explicar de modo simples o seu ponto de vista e sustentar a verdade de maneira bíblica é visto mais poderosamente ou apresentada com mais excelência em seu tratado marcante a respeito da depravação total.
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[i] John Calvin, Institutes of Christian Religion, 2.3.3.
[ii] Ibid.
[iii] Ibid.
[iv] Ibid., ênfase acrescentada.
[v] Ibid.
Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright © Editora Fiel & Reformation Trust 2009.
Retirado do livro: John Calvin, a Heart for devotion, doctrine and doxology, cap. 11. (Reformation Trust, 2008).
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SER TOTALMENTE DEPRAVADO SIGNIFICA QUE
TODOS NÓS PECAMOS, INDEPENDENTE DE TUDO?
John Piper



Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Original:
John Piper – Does being totally depraved mean were always sinning no matter what?
Tradução e Legenda:
voltemosaoevangelho.com
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John White – Conversões Abortivas: Culpa Nossa ou de Satanás?

As técnicas se tornam imorais quando, consciente ou inconscientemente, nós as utilizamos para manusear a vontade, as emoções ou a consciência de outrem.


O evangelismo não é uma lavagem cerebral

A primeira vez que vi a “lavagem cerebral” evangelística foi na Inglaterra, em 1945. Eu havia recebido a tarefa de ajudar uma jovem que “viera à frente” na noite anterior, mas que acordara no dia seguinte reconhecendo haver caído em uma armadilha que a levara a tomar uma decisão apressada. Sua angústia e confusão perturbaram-me profundamente.
Alguém poderia argumentar que a conversão da jovem foi genuína e que sua reação subseqüente foi inspirada por Satanás. Lembro-me de que naquela ocasião adotei esta opinião. Agora, porém, estou mais inclinado a pensar que sua conversão foi psicológica e não espiritual.
Deixe-me definir meus termos.
Em certo sentido, toda conversão é psicológica. Toda conversão inclui uma decisão e uma mudança de perspectiva. Ora, decisão e mudança de perspectiva são fenômenos psicológicos. Mas, enquanto as alterações emocionais de uma conversão espiritual resultam da ação de Deus, em uma conversão puramente psicológica tais alterações resultam de uma técnica empregada ou de uma pressão emocional. Não representam um milagre da graça.
Esta distinção começou a resplandecer em minha mente quando ouvi falar sobre as técnicas de “doutrinamento” usadas pelos comunistas chineses, logo depois da revolução na China. Eles organizavam grandes concentrações com testemunhos pessoais, coros, oradores “dinâmicos”, apelos e obreiros pessoais — tudo comunista. Imitação fraudulenta do diabo? Não exatamente. Pelo contrário, era a maneira chinesa de empregar, aberta e deliberadamente, as técnicas que alguns evangelistas (talvez de modo inconsciente) usam para obter convertidos.
Nossas mentes estão sujeitas a determinadas leis e, em grau limitado, estão abertas a manipulações. Se, em uma multidão numerosa, me fizerem rir e, depois, chorar; e, em seguida, rir e chorar novamente; e se, em adição a isso, repetirem certas frases com insistência e, alternadamente, me falarem e me consolarem, a minha mente, se eu não estiver vigilante, se tornará cada vez mais flexível nas mãos daqueles que assim agem para comigo.
Poderei chegar a um ponto em que farão comigo o que desejarem. Meu juízo perde a sua sensibilidade, minha consciência se inflama, minhas emoções fazem tudo parecer diferente. Se, em tal condição, eu tomar a decisão que desejarem que eu tome, não importando qual seja esta “decisão”, provavelmente experimentarei alívio, alegria e paz. Este é um fenômeno psicológico bem conhecido. As suas técnicas também são bastante conhecidas. Ainda que eu permaneça alerta, talvez seja difícil resistir, pelo menos temporariamente.
A conversão espiritual autêntica é muito mais profunda. Possui uma dimensão imaterial, não-psicológica. É acompanhada por uma alegria e uma paz mais do que temporária. A conversão autêntica dá lugar à mansidão, à fome e sede de justiça, à humildade de espírito e a todos os frutos da justiça.
Se você é um pregador do evangelho, compete-lhe saber o que está fazendo. Tenha cuidado para não utilizar suas habilidades como pregador na realização de psicoterapia coletiva. Lembre-se de que está colaborando com o Espírito Santo. Você deve ter cautela em almejar grandes números de conversões, para que não tente realizar a obra que compete ao Espírito Santo. Seu trabalho, como pregador, consiste em explicar a Palavra de Deus, mostrando como ela se aplica. A obra do Espírito Santo consiste em fazer a Palavra arraigar-se na consciência do homem, a fim de que este permaneça sob o efeito da convicção. Portanto, não brinque com a consciência do pecador, relatando-lhe histórias espantosas. Permita que o Espírito Santo realize a convicção e desperte o temor. As histórias servem para esclarecer pontos obscuros da mensagem, não para produzir calafrios na congregação.
Isto significa que todas as técnicas de evangelismo estão erradas?
Não, não penso assim. É impossível fazer qualquer coisa sem alguma técnica. Precisamos de técnicas para comunicar a verdade com clareza. Prefiro dizer que as técnicas se tornam imorais quando, consciente ou inconscientemente, nós as utilizamos para manusear a vontade, as emoções ou a consciência de outrem; quando adquirem maior importância, em nossos pensamentos, do que o Espírito de Deus; quando os resultados se tornam mais importantes do que as pessoas.

Emoções falsas

Não sou contra as emoções na pregação, e sim contra o emocionalismo. Não me declaro contrário à persuasão fervorosa, e sim contra os truques utilizados para levar um homem a mudar de opinião. Paulo pleiteava com homens e mulheres, chorando enquanto os exortava. Uma atitude magnífica! Porquanto o evangelho de Jesus Cristo não consiste de uma inexpressiva proposição intelectual, e o destino de um homem impenitente não é uma questão de simples interesse acadêmico.
Por conseguinte, que haja lágrimas e não os que “arrancam lágrimas”; que haja persuasão e não as técnicas persuasivas. Em áreas não- espirituais, quando tratamos sobre algo que nos preocupa, lemos livros e manuais para aprender técnicas persuasivas, a fim de levarmos os indivíduos a tomarem decisões. Porém, na pregação, prefiro mais um pregador que chora e uma congregação de olhos enxutos do que o contrário. O pregador tem algo a respeito do qual pode chorar. Ele enxerga, ou deveria enxergar, como as pessoas realmente são, e sua tarefa consiste em transmitir o que vê. E neste processo talvez não seja capaz de controlar suas emoções.
O perigo das manipulações psicológicas não se limita às grandes concentrações de pessoas. As técnicas de evangelismo pessoal podem ser igualmente perigosas.
Vocês já se encontraram com pessoas que lhes perguntaram: “Oh! Será que passei pela experiência?” Ao questioná-las, vocês descobriram que elas haviam “aceitado o Senhor”, quando algum evangelista pessoal excessivamente zeloso apenas as pressionou demais. É verdade que alguns desses “convertidos” podem ser pessoas regeneradas que estão se afastando do Senhor. Mas estou igualmente certo de que a maioria destes casos resulta da “lavagem cerebral” evangelística aplicada por certos “obreiros pessoais”.
Parte de nossa dificuldade se origina de nosso desespero em busca de resultados. Os pastores que trabalham de “tempo integral” têm de provar que estão labutando de tal modo que merecem seu salário. São obrigados a obter resultados e se desesperam por desejarem ser bons agentes de vendas do seu produto. Os que estudam para o ministério evangélico tentam provar seu desempenho cristão (como alguns guerreiros índios provam sua masculinidade) arrancando alguns escalpos.
Ora, os resultados nos deixam perplexos. Não estou dizendo que não devemos ficar preocupados, quando as pessoas ao nosso redor não se deixam levar à salvação. De fato, neste caso deveríamos ficar extremamente preocupados. Entretanto, os resultados precisam ser genuínos, a fim de que tenham qualquer valor. É a regeneração que torna o pecador apto para o céu, e não a manipulação de uma conversão psicológica.
O que posso dizer sobre os motivos que tenho em mente, quando busco resultados? Eles se originam de um sincero interesse pelo meu próximo? Originam-se do amor de Cristo que me constrange? Anseio pela glória de Deus? Ou simplesmente estou procurando comprovar algo?
Por: John White. © Editora Fiel | editorafiel.com.br

Paul Washer - O Porco

 


Por Paul Washer. © HeartCry Missionary Society Inc. Website: heartcrymissionary.com
Tradução e Legenda: Canal Estreito Caminho